quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Padronizar sem deixar de inovar

O professor José Renato Santiago Jr., da Fundação Vanzolini, afirma que só há gestão do conhecimento se for baseada na busca pela inovação. Do ponto de vista dele, é possível a uma empresa atingir bons níveis de padronização dos processos produtivos sem perder o potencial inovador das pessoas, já que a gestão do conhecimento, quando busca o compartilhamento de ideias e experiências, é também um fator importante para inovação e conquista de bons resultados no ambiente empresarial.

Doutor em engenharia e pós-graduado em marketing, o estudioso despertou para a importância do fator humano nas organizações quando gerenciava projetos na construção civil. “Vi que estava indo pelo caminho errado, pois implantava um projeto em uma obra e, em uma ou duas semanas, o profissional treinado já não estava mais lá. Era preciso realizar alguma ação junto às pessoas”, recorda.

Em sua visão, apenas desenhar um processo e dizer que o acatem não funciona – menos ainda, se for necessário substituir profissionais para que ele seja levado adiante. Por vezes, será preciso contratar pessoal, mas o pressuposto deve ser o aproveitamento do capital humano existente, pois ele carrega a cultura e os valores da organização. Para o professor, a solução é fazer com que as pessoas participem do design dos processos, que tem início com o diagnóstico do conhecimento que a empresa já possui.

Ao desenhar um processo, é preciso tomar cuidado para evitar o engessamento que prejudica a emergência da criatividade que pode levar à inovação. Isso ocorre, por exemplo, quando
se definem o software ou o mecanismo, isto é, o meio pelo qual uma atividade deve ser realizada. “Mesmo as atividades rotineiras podem ser feitas de um jeito melhor. Mas é fundamental que se distinga claramente o que é meio do que é processo”, alerta Santiago, que é autor (com Heródoto Barbeiro) de Buscando o equilíbrio (ed. Novatec), entre outros títulos.


A gestão do conhecimento tácito

“A gestão do conhecimento só existe se for fundamentada pela inovação. De outro modo, será somente compartilhamento de experiências passadas”, ressalta Santiago. Ele comenta que, para muitos, gerir conhecimento é apenas lidar com o que já existe na organização, o que traz o risco de a empresa perder oportunidades de negócios e ser ultrapassada por outras.

É preciso olhar para fora, buscar o novo, seja um resultado melhor ou um novo segmento de atuação. “Foi o que não fez a Olivetti, que ficou presa ao conhecimento que já possuía, entendendo que seu produto não era processar dados, mas datilografá-los.” Olhar para fora, aliás, é papel de cada indivíduo dentro da organização, mas cabe a ela valorizar tal atitude.

O conhecimento tácito não se traduz por palavras e, portanto, não se registra em formulários. Ele merece o investimento da empresa, pois é o que agrega valor aos processos. Por exemplo, quando se pergunta a um colaborador como reduzir custos de um produto e ele responde que se deve atentar para o item de maior custo que o compõe, ele está dizendo algo que não fará diferença, é explícito. Se, contudo, ele disser que será preciso localizar os insumos que a empresa contrata externamente porque não tem competência para realizá-los, esse insight poderá alimentar uma gestão mais inteligente.


Na prática

Para promover o compartilhamento de ideias e a transmissão do conhecimento tácito, algumas empresas colocam profissionais de mais senioridade como tutores dos mais novos, mas não com o objetivo de um substituir o outro, conforme explica Santiago. Algumas organizações trabalham com um board de profissionais experientes que passam a ser consultores da empresa.

Os gestores da Fibria, do setor de celulose, perceberam a necessidade de integrar mais as equipes de maneira coesa e disciplinar. Por esse motivo, estão estruturando o processo de comunidades de prática, a fim de promover e organizar o compartilhamento de ideias entre profissionais, independentemente do conhecimento técnico que possuam, segundo temas definidos no planejamento estratégico da área de tecnologia.

“As pessoas se reúnem mensalmente. Em vez de ‘eu faço minha parte e entrego para o próximo’, a comunidade de prática enxerga o processo como um todo. Posso não ter conhecimento sobre um assunto, mas participo do compartilhamento”, esclarece o professor, que salienta: “É preciso ter em mente que compartilhar conhecimento é importante porque traz resultados para a empresa. Ela não deve considerar que isso seja meramente uma medida preventiva para quando as pessoas a deixam e levam consigo esse capital”.

Portal HSM
10/08/2012

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