quarta-feira, 22 de agosto de 2012



Spondias Lutea

Majestosa expressão da flora sertaneja,  
formosa afirmação da vida vegetal,  
olhos não ponho em ti que, em frêmitos, não veja  
fulgir a tradição do meu torrão natal.

E - transpondo os umbrais de solitária igreja,  
ante o altar genuflexo o crente fica - tal  
me quedo ante o teu vulto, a alma a sentir que voeja  
por sobre a romaria em ronda festival.

Bendito o afã com que vão as tuas raízes  
seiva buscar no chão! Benditos os matizes  
da folhagem, de verde aberto a verde gázeo,

e a força vegetal que os teus frutos adoira!  
Frutos!. Jalde colar de bagas de topázio  
que a luz do luar prateia e a luz do sol redoira


(Cristiano Cartaxo)



Ascensão

Atravessaste o vale, a planície florida,  
absorto na visão dos encantos da estrada.  
Eis-te agora ao sopé da montanha da vida  
que irás subir a fim de alcançar a chapada.

Coragem, moço! Eu sei que é íngreme a subida.  
Que importa?  Vencerás, passada por passada,  
para a glória de o sol beijar-te a fronte erguida.  
- E depois? - É a descida, é a morte, é a volta ao nada...

Mas, tanto que atingi o cimo da montanha,  
a fronte em suor, os pés em sangue, as mãos em brasa,  
senti que mergulhara em claridade estranha...

e a Verdade esplendeu em toda a intensidade:  
é uma ascensão a vida! Eu necessito de asa  
para me erguer mais alto em rumo à Eternidade!

(Cristiano Cartaxo)


Orgulho Caboclo



Tenho orgulho de haver nascido no sertão,

na terra em que o vaqueiro, intrépido, se estriba

no dorso de um cavalo, e de um soco derriba

no coração da mata o touro barbatão.



Tenho orgulho de ser filho da Paraíba,

irmão do cearense indômito, que não

perdeu o amor à terra e só daqui arriba,

quando na seca os céus lhe negam água e pão.



Orgulho deste sol, cujos beijos ardentes

dão à terra molhada e igualmente às sementes

o mágico poder de uma ressurreição.



Dos que fecham com ferro e com cimento e terra

as gargantas do rio, os boqueirões de serra,

conquistando destarte a nossa redenção!

(Cristiano Cartaxo)



Cajazeiras - Cidade

Contra um projeto que queria mudar o nome
da cidade, para o indígena “taperibá”
 
Minha terra natal é Cajazeiras!
Demora em suave depressão de vale.
Entre as irmãs talvez nenhuma a iguale
no recato do porte e das maneiras.

Dizer de suas graças feiticeiras, 
nem é preciso que meu verso fale;
basta que em coro uníssono o propale
a multidão das aves cantadeiras.

O seu nome é um presente do passado.
Vem do berço. Que espírito profano
não lhe arranque o topônimo sagrado,

para que eu possa, em loas verdadeiras,
sempre dizer, envaidecido e ufano:
Minha terra natal é Cajazeiras!

(Cristiano Cartaxo)



 Nuvem

  Gotas de suor da terra evaporadas
ao calor, e ao soprar das ventanias,
amarguras dos campos condensadas
rumo dos céus, lá nas alturas frias!
Para onde vais, fugindo assim às pressas,
tu que és filha daqui? Não te comove
o aspecto bruto, o horror medonho dessas
regiões em que há seis meses que não chove?
Peregrina, mimosa retirante,
nômade filha do sertão agreste,
pois é fado viver assim errante
quem nasceu nessas bandas do Nordeste?
Reclamam-te esses campos inditosos
a umidade fecunda dos teus beijos
na saudade dos rústicos festejos:
águas de enchentes, roças e outros gozos.
Nuvem - gases do vale, véus da serra -
para onde vais, fugindo assim em bando?
Filha rebelde e pródiga da terra,
quando é que um dia hás de voltar chorando?
O chão, o céu, os pássaros em coro,
rios, açudes, tudo mais enfim,
ressuscita à harmonia do teu choro.
O próprio sol se ameiga ao ver-te assim.
E cala o filho do sertão adusto,
que desde o berço até à campa sofre
a dor que lhe arranquei do peito angusto
e aqui fica gemendo nessa estrofe:
Ai! Para que plantar? Só para a mágoa
de assistir o espetáculo tremendo
de o que plantei aos poucos ir morrendo
à fartura de sol e à mingua d'água?
Nuvem, piedade! Ao menos com o manto
de tuas sombras cobre os sertões nus
para que o sol não queime a terra tanto
e o homem não viva amaldiçoando a luz!...

(Cristiano Cartaxo)





Pôr do Sol

Que queres tu, viajor, olhando para trás?  
O que vês é a distância, é a estrada percorrida,  
é o pó das ilusões da vida já vivida,  
é o tempo que passou e que não volta mais.

Porventura não vês, após tamanha lida,  
que tudo neste mundo é efêmero e falaz?  
Inexoravelmente, um dia, zás, a morte  
sorrateira, sutil, corta o fio da vida.

Que queres mais, viajor, ó espírito enfermo?  
Não vês que longe vais, quão perto estás do termo?  
De que valem as cãs que te ornam a cabeça?

Desfita,  pois,  o olhar dos longes do horizonte,  
volta as costas ao mundo, eleva a Deus a fronte, 
antes que o sol de ponha, antes que a noite desça.


(Cristiano Cartaxo)


Fontes: 
Imagens - sites diversos

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